Tosse é um sintoma comum e motivo frequente de procura por atendimento médico. Há muitas causas e deve ser investigada sempre que se prolongar por mais de 3 semanas.

Há gatilhos (receptores) para tosse em diversos locais do corpo, como vias aéreas (nariz, faringe, laringe, traquéia, brônquios, bronquílos), ouvido, esôfago, estômago, pericárdio (camada que envolve o coração) e diafragma. Um estímulo (químico ou físico) nesses locais pode gerar tosse.

Gotejamento posterior (ex. Rinite)

Definição

Secreção das vias aéreas superiores (nariz e seios da face) escorrem para trás e desencadeiam tosse.

Causas

Rinite alérgica e não alérgica (vasomotora), naso-faringite, sinusite

Sintomas

  • frequentemente acompanhado de secreção nasal de aspecto e quantidade variáveis: coriza clara (hialina) a amarela e esverdeada;
  • congestão nasal (entupimento);
  • sensação de muco escorrendo atrás da garganta, “pigarro”;
  • coceira nos olhos;
  • espirros;
  • piora com exposição à cheiros fortes, poeira e fumaça;
  • pode piorar ao deitar (drenagem postural).

Tratamento

  • Controle ambiental
    • retirar carpete, tapete, cortinas, bichos de pelúcia, livros, papel de parede;
    • trocar cobertor por opções que acumulem menos pó e possam ser lavadas com freqüência (ex. edredom);
    • trocar travesseiro a cada 6 meses;
    • manter ambiente seco (sem umidade/ mofo) e bem ventilado
  • Tratamento tópico
    • lavagem nasal com salina (ex. Soro fisiológico ou soluções prontas em dispositivos com spray)
    • sprays com anti-inflamatórios tópicos (ação local)
  • Tratamento oral/ sistêmico (reservado para as crises)
    • anti-alérgicos;
    • cortióides.
  • Terapias imunes/ vacinas.

Asma

Definição

Doença inflamatória crônica das vias aéreas, caracterizada por crises de chiado, falta de ar e aperto no peito.

Sintomas

  • Habitualmente se manifesta com crises de chiado (bronco-espasmo), mas pode se manifestar com tosse episódica (asma variante tosse) ou tosse associada a chiado.
  • Piora associada a mudanças climáticas, períodos do dia (entardecer e amanhecer).
  • Piora associada a infecções de vias aéreas superiores (ex. resfriado e gripe) (link)

Diagnóstico

É necessária avaliação médica, exame físico e exames complementares.

Tratamento

  • Similar à rinite, o controle ambiental é fundamental para o controle de asma, aliás, o controle da rinite (para quem tem ambas doenças) também é essencial.
  • Medicamentos que diminuem inflamação em via aérea.
  • Medicamentos que dilatam a via aérea (broncodilatadores).

Refluxo gastro-esofágico (Doença do refluxo gastro-esofágico – DRGE)

Diagnóstico

História clínica e exames conforme necessidade.

Sintomas

  • Por vezes a tosse é o único sintoma, usualmente seca e com piora ao deitar.
  • Azia, queimação, eructação (arrotos), gosto amargo na garganta (refluxo), empachamento (sensação de estômago estufado após comer).

Tratamento

  • Medidas comportamentais
    • Elevar cabeceira da cama em 10-15cm (ex. 2 tijolos no pé da cama).
    • Para ingestão de alimentos e líquidos 2h antes de deitar, não realizar ingestas durante a noite.
    • Fracionar a dieta: comer menos quantidade e mais vezes, não ingerir líquidos junto com a comida, fazer 30min antes ou após a refeição.
  • Medidas dietéticas
    • Alimentação balanceada, evitando alimentos ácidos, cafeína, gordura, condimentos e bebida alcoólica.
  • Tratamento medicamentoso
    • Controle da acidez: neutralizadores de pH (substâncias alcalinas), diminuição da produção de ácido.
    • Métodos de barreira: substâncias que formam camada protetora.
    • Estimulação da motilidade gastro-intestinal (peristaltismo).
  • Tratamento cirúrgico
    • Em casos selecionados pode ser necessário procedimento cirúrgico para corrigir o DRGE.

Infecções respiratórias (Tosse pós-infecciosa)

Definição

Tosse persistente após de período inicial de infecção respiratória, geralmente associada a alguns microorganismos específicos (ex. Coqueluche).

Sintomas

  • Frequentemente a tosse é o único sintoma.
  • Sibilância (chiado) e expectoração (catarro) em intensidades variáveis podem ocorrer.

Tratamento

  • Diagnóstico
    • Realizar o diagnóstico do quadro e tentar identificar o agente causador é fundamental para direcionar o tratamento aumentando a taxa de sucesso e abreviando o tempo do quadro.
  • Sintomáticos
    • Anti-tussígenos.
    • Anti-alérgicos.
    • Corticóides.
  • Específicos
    • Conforme resultados dos exames pode ser necessário antibiótico direcionado.

Bronquite crônica (Doenç Pulmonar Obstrutiva Crônica – DPOC)

Definição

Doença inflamatória crônica e progressiva das vias aéreas, causada por fumaça ou outras substâncias tóxicas.

Sintomas

  • Tosse persistente com secreção (pigarro) matinal em quantidade variável, na maioria dos dias por mais de 3 meses.
  • Dispneia (falta de ar) habitualmente progressiva, limitando as atividades diárias.
  • Períodos de piora com aumento tosse, aumento de expectoração, mudança no aspecto do muco (tornando-se mais espesso e escuro – amarelo ou esverdeado).

Diagnóstico

  • É necessária avaliação médica, exame físico e exames complementares.

Tratamento

  • O principal item do tratamento e o que tem maior impacto na evolução do quadro é parar de fumar (cessação do tabagismo).
  • Medicamentos que diminuem inflamação em via aérea.
  • Medicamentos que dilatam a via aérea (broncodilatadores).
  • Medicamentos que reduzem as crises (exacerbações).
  • Vacinação conforme orientações do seu médico.

Tumores de Pulmão (Neoplasia ou Câncer de Pulmão)

Geral

  • 85-90% dos cânceres de pulmão são atribuíveis ao cigarro.
  • O risco de câncer aumenta com o tempo de fumo e quantidade fumada.

Sintomas/ sinais de alerta

  • Surgimento de tosse ou mudança no seu padrão em pacientes fumantes ou ex-fumantes.
  • Tosse persistente por mais de 1 mês após cessação de tabagismo.
  • Tosse com expectoração com sangue.
  • Tosse associada a perda de peso.

Diagnóstico

É necessária avaliação médica, exame físico e exames complementares.

Tratamento

  • É variável de acordo o tipo de câncer, estágio em que se encontra, características do paciente outras doenças.
  • Dentre as possibilidades terapêuticas há: cirurgia, quimioterapia, radioterapia, terapias com “drogas-alvo”, “imuno-terapias” e cuidados gerais com o paciente.
  • Frequentemente mais de uma estratégia pode ser utilizada.

Outras causas

  • Medicamentos
    • Alguns medicamentos podem causar tosse, especialmente certos medicamentos para tratamento de hipertensão.
    • Após avaliação médica, pode ser necessária troca desse medicamento.
  • Tuberculose
    • O Brasil é um dos países com maior incidência de tuberculose do mundo.
    • Sintomas usuais: Tosse por mais de 3 semanas associada a suor noturno, febre baixa à tarde, perda de peso.
    • Diagnóstico: avaliação médica, exame físico e exames complementares.
    • Tratamento: conforme orientações por seu médico, com medicações específicas, com tempo mínimo de 6 meses.
  • Bronquiectasias (ex. Fibrose Cística)
    • Trata-se de doença genética com diversas manifestações. Do ponto de vista respiratório, infecções frequentes e grande quantidade de expectoração são características.
    • Diagnóstico: avaliação médica, exame físico e exames complementares.
    • Tratamento: multi-profisisonal: médico, fisioterapeuta, nutricionista; medicamentos específicos.
  • Doenças Pulmonares Intersticiais (ex Fibrose Pulmonar Idiopática, Pneumonite de Hipersensibilidade, Sarcoidose)
    • São doenças que inflamam uma área específica do pulmão chamada de interstício e dificultam a troca gasosa (entrega de oxigênio e remoção do gás carbônico).
    • Diagnóstico: avaliação médica, exame físico e exames complementares.
    • Tratamento de acordo com a doença e suas manifestações.

Sinais de alerta

Pode-se lançar mão do acrônimo TOSSE para lembrar dos sinais de alerta, indicando necessidade de avaliação médica por Pneumologista.

  1. T = Tempo (duração)

Qualquer tosse que dure mais que 3 semanas deve ser avaliada para determinar sua causa, orientar o tratamento, reduzir a chance de complicações e sequelas.

  1. O = Outras doenças (comorbidades)

A tosse pode ser manifestação de algumas doenças como refluxo (gastro-esofágico), insuficiência cardíaca (“coração fraco”), asma e pode ser complicada por outras como AVC (derrame), enfisema e tumores. Pacientes que apresentem tosse e tenham outras doenças devem ser avaliados.

  1. S = Sintomas

A tosse deve ser avaliada sempre que estiver associada a outros sintomas como: febre (mesmo que febre baixa e só à tarde), sudorese noturna (excessiva/ mudança no padrão habitual), aumento de expectoração, mudança no aspecto da expectoração (catarro mais espesso ou escuro), falta de ar (dispneia), chiado no peito (broncoespasmo), tontura ou desmaio (síncope).

  1. S = Sangramento

Sempre que houver sangramento associado a tosse/ expectoração com sangue (hemoptise) o paciente deve ser avaliado. O sangramento pode indicar uma doença de maior complexidade, necessitando de tratamento específico e frequentemente com necessidade de intervenção rápida.

  1. E = Emagrecimento

Sempre que houver perda de peso, especialmente se >10% em 6 meses, o paciente deverá ser avaliado com brevidade pelo Pneumologista. Esse quadro pode estar associado a condições mais delicadas como alguns tipos de infecções e até tumores.

0 respostas

Deixe uma resposta

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *